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Só-lia-com-a-Idade

Só-lia-com-a-Idade Ela fazia as refeições com os donos da casa, dos quais era amiga de longa data, conversava sobre sua família, ria de coisas toscas, mostrando sua obturação de ouro em um dos dentes superiores. Inteligente, nunca estudara em escola formal, tudo que sabia era soletrar algumas palavras e escrever poucas; aprendendo com os outros, aos devagar, numa vida experiente, observada e de certa forma bem vivida. Após as refeições ela recolhia os pratos, talheres e punha todos sobre a pia da cozinha. Antes de começar a lavar erguia as mãos ao ceu e agradecia a Deus por ter se alimentado mais um dia, terminava se benzendo. Diziam-na louca, porém a convivência de alguns dias com ela, em muitas oportunidades, tinha-se a nítida impressão que ela era lúcida. Diziam que ela não mais gostava de marido, do qual tivera quatro filhos. Como perdera o interesse sexual pelo marido, procurava relacionamentos rápidos e comportava-se como desajustada, falando coisas desconexas; tudo para

Aracati & Outros/as

Aracati & Outros/as A falta de energia elétrica, nos sítios de meus avós nem era falta(só tem-se falta daquilo que já teve-se e não tem-se mais). Havia lampiões, lamparinas, velas; e pernilongos para matar, até em torno de nove horas da noite. Estes eram espantados pela fumaça da bosta seca do gado bovino ; era recolhida dos currais e das pastagens, colocada ao sol para secar e quando seca guardada. Colocava-se pedaços em latas de goiabada vazias, acendia-se e pronto, a fumaça subia, com cheiro de capim seco queimado. Nesse horário entrava(e ainda entra) o “Vento Aracati”, refrescante, que vem das praias do Ceará. Por causa desse vento abençoado os pernilongos davam uma trégua. A serpentina, comprada nas mercearias, era usada dentro de casa. Já dentro de casa, meu avô abria a Bíblia sobre uma grande mesa de madeira, que ele próprio fizera, as folhas do livro sagrado já estavam amareladas, algumas páginas dobradas que mostravam quanto esse livro havia sido usado. Lia p

A viagem

A viagem Aquele dia de fevereiro de 196x começou a mudar a vida de GL. Partiu de sua cidadezinha nos confins da Paraíba, na beirada do Ceará, com os olhos marejados, ainda menor de idade, considerando 194x o ano que nascera, em meados do mês de Áries, data que veio ao mundo, em direção a São Paulo. Não queria olhar para trás; atrás de si estavam seu pai, sua mãe e seus irmãos com os corações partidos. À medida que enfrentava a estrada as lembranças iam ficando mais velhas, sem embargo não esquecidas; e o futuro ia chegando aos poucos e virando definitivamente passado. A viagem fora feita na boleia desconfortável de um caminhão carregado de mercadorias, veículo cujo proprietário fora amigo da família de GL. São Paulo era o sonho de destino de quem queria trabalhar, estudar para ganhar a vida. A maioria dos migrantes iam trabalhar em serviços pesados, de baixa remuneração. Apesar disso a Capital de São Paulo era o Eldorado no imaginário popular. “São Paulo tem muito ouro, corre prat

Sonho

Era uma pequena sala, com o jeito de um ambiente escolar; para dar crença a esta narrativa, aparecia uma professora do meu curso primário, do Grupo Escolar Dr. Silva Mariz. (Logo aquela escola que era tão simples e tão bonita, com salas arejadas, cheias de carteiras pretas, com bancos compartilhados, locais para canetas-tinteiros, local para colocar nossos livros, lousa ampla, onde sempre sobrava escrito em giz turma do dia anterior, ou vestígios de palavras e frases que, com um pouco de esforço, dava para subentendermos e desvendarmos os significados). Ela mostrava em uma estante uns livros muito bem encadernados, com lombadas verde-escuras, trabalho em capas duras. Aparentemente queria encomendar outras encadernações de outros livros. Naquele instante aparece o ex-presidente Obama, sem quê nem pra quê. Ele olha e pega um dos livros, elogia a encadernação, a lombada e diz que que é "um trabalho artístico, bonito e caro". E foi só isto, um sonho onde sempre cabe o impossível

Frank

“Frank” Oito horas da noite, estava vendo alguns assuntos na internet, quando faltou energia elétrica. Tive que desligar o computador para economizar a bateria. Decidi ir ao portão do jardim para apreciar o breu daquela noite. Uma vez ou outra passava um carro de faróis altos cuja claridade iluminava quase toda rua. Olhei para cima e vi muitas estrelas. Lembrei-me de minha avó quando dizia: “não aponte para as estrelas!” pode criar verruga na ponta dos dedos... E eu não entendia aquilo. “Verruga nos dedos!”, que horror! Dormia pensando nas estrelas e checando os dedos. Dois olhos redondos e amarelos apareceram, fixos, como se estivessem soltos no ar ou pintados em um quadro. Não dava para ver o corpo da criatura, só os olhos. Mas eu já desconfiava quem era. Só podia ser o gato preto do vizinho, preto que nem a noite escura. O nome dele é “Frank”, a princípio era Frankstein mesmo, mas simplificaram, afinal é um gato que apronta algumas, por repreender-lhe a toda hora precisava ter um no

Gritos de prazer

Vi um filme, talvez um sonho ou mesmo um conto erótico, que um casal estava em uma festa bebendo, dançando e se beijando. Nessa excitação toda decidiu fazer amor no amplo jardim da casa. O cara falava para a mulher, devido a experiências anteriores, enquanto procuravam a melhor moita: "por favor não grite, controle-se." Tiraram as roupas um do outro e foram jogando de qualquer jeito na grama. Beijaram-se muito, esfregaram-se outros tantos, usaram todas as mãos, dedos e línguas. A princípio ela só gemeu, uns gemidos das amantes japonesas, misto de gemido e de choro, mas aí ela foi aumentando o volume dos gemidos, como fazem os gatos, à medida que se aproximava do clímax, até transformar em gritos, e as pessoas, ouvindo os berros de prazer, foram para as janelas, depois saíram da casa e fizeram um círculo em torno dos corpos nus, sonolentos, com os sexos sujos de gala, jogaram champagne, vinho, vodka, sobre os sexos deles........ e bateram palmas.

Acontece só comigo?

  Acontece só comigo? Entrei em uma óptica que sou cliente há muito tempo. A lente de meu óculos “de longe” estava riscada, devido a uma queda que sofri, limpando o jardim a qual causou um corte em meu supercílio. Um japonês foi quem me atendeu e eu perguntei se podia substituir a lente e eu esperar pelo conserto. Ele disse que sim, era rápido. Em quarenta minutos o serviço estava pronto. O japonês que é dono da loja não estava lá desta vez. O mesmo que certo dia, quando pedi para fazer uma limpeza e substituição de umas pecinhas(aquelas pecinhas móveis que ficam sobre o nariz) nos óculos me perguntou se eu comprara os óculos na loja, eu disse que não; ele falou para o empregado “então não faça o serviço, para ele aprender e comprar óculos sempre aqui”. Bom, eu disse pra ele que não estava pedindo favor, pagaria pelos serviços. Aí ele concordou e cobrou as peças; ok, sem problemas. O tipo de comerciante que não enxerga um palmo a frente do nariz. Eu dizia que hoje o japonês dono não es